O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, concentra esforços hoje e amanhã no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, em que perdeu para o presidente Jair Bolsonaro (PL), no primeiro turno, por 1 milhão de votos de diferença.
Lula participará, hoje, de uma caminhada pelo centro de Belford Roxo, município da Baixada Fluminense, em companhia do prefeito e presidente estadual do União Brasil, Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como Waguinho. Ele e a esposa, Daniela do Waguinho — deputada federal mais votada do estado —, anunciaram, ontem, apoio ao ex-presidente no segundo turno.
“Deixo claro que sou aliado do governador Cláudio Castro, mas faço minha declaração de voto em Luiz Inácio Lula da Silva por sua história de luta pela democracia e inclusão social, pois acredito ser esse o caminho mais apropriado para o nosso país”, declarou Waguinho, em nota, para explicar o apoio que deu à reeleição do governador.
Amanhã, o ex-presidente fará caminhadas no Complexo do Alemão e na Rocinha, duas das maiores comunidades de favelas da capital fluminense. Ele repete a estratégia que marcou sua passagem por Belo Horizonte, no último domingo: em vez de reunir militantes em comícios, a campanha aposta, agora, em caminhadas com apoiadores. “Era muita gente em Minas Gerais, não esperava reunir tanta gente em um dia só”, disse Lula, em São Paulo, ao receber o apoio do movimento da sociedade civil Derrubando Muros, formado por empresários, acadêmicos, economistas e políticos, com cerca de 100 signatários.
Sem citar o nome de Bolsonaro, Lula manteve o tom duro das críticas que vem fazendo ao atual presidente. Disse que esta eleição “não é normal, nós não estamos disputando uma eleição dentro de um processo democrático normal” e que “esse cidadão (Bolsonaro) é anormal”. “Ele não teve nenhuma educação civilizatória. Ele pensa no Brasil para ele, as Forças Armadas são dele, a Suprema Corte é dele, o Congresso é dele. E não é assim que a gente vai reerguer este país”, declarou.
O presidenciável também criticou a ideia encampada por setores do bolsonarismo de ampliar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Afirmou que há uma tentativa de “destruir as instituições” e que a proposta é apenas para o presidente ter “uma Suprema Corte favorável a ele”. O candidato do PT lembrou as seis nomeações que fez nos dois mandatos em que exerceu a Presidência. “Eu tive a sorte de indicar seis ministros da Suprema Corte, e não indiquei nenhum amigo. Tenho orgulho de ter indicado seis e nunca pedir um favor. Eles não foram indicados para me ajudar, e, sim, para cumprir o papel que está escrito na Constituição.”
Com presença confirmada no primeiro debate presidencial do segundo turno, no domingo, na TV Band, o candidato do PT disse que não pretende bater boca com Bolsonaro. “Da minha parte, não terá baixo nível nem jogo rasteiro. Estarei falando com as pessoas do Brasil, não com o presidente”, frisou.
Sobre a divisão do eleitorado nestas eleições, Lula acredita que a polarização só vai até o dia 30. “Na hora que fechar a urna e anunciar o resultado, terminou. Não tem mais bolsonarista, lulista, flamenguista, vascaíno, corintiano ou palmeirense. Quem ganhou governa, quem perdeu chora. É simples assim.”
Economia
Para preparar o terreno da visita ao Rio de Janeiro, Lula concedeu, pela manhã, uma entrevista à Rádio Tupi, em que apresentou propostas para recuperar a economia do estado: retomar o programa de moradia popular Minha casa, minha vida (para dinamizar a indústria da construção civil) e “recuperar a indústria naval” com a participação da Petrobras. “Vamos voltar a construir sondas e plataformas da Petrobras com componentes nacionais”, ressaltou o ex-presidente. Ele também fez acenos para os microempreendedores individuais, ao prometer ampliar o acesso a financiamentos de bancos públicos.
Aos poucos, o petista vai sinalizando propostas voltadas à área econômica, mas não fala em nomes para compor um futuro ministério. Ao receber representantes do movimento Derrubando muros, Lula pediu “paciência” a quem aguarda a divulgação dos “ministeriáveis”.
“A imprensa pressiona (perguntando): ‘cadê o ministro do Lula?’, ‘cadê o ministro da Economia?’, mas, se eu fosse bobo e indicasse um ministro antes das eleições, perderia outros 30 que não indiquei. Tenham paciência quem estiver querendo ser (ministro)”, disse.
No encontro, o candidato reforçou suas prioridades na economia: combater a fome e gerar empregos. “Este país não pode viver de auxílio emergencial a vida inteira, o povo brasileiro quer viver de trabalho, que dá dignidade”, enfatizou.
Ele recebeu do movimento apoio “amplo, geral e irrestrito”, além do compromisso de reforçar a defesa da democracia brasileira. Uma série de propostas para o país foi entregue à equipe do candidato e resumida por um dos porta-vozes do grupo, o ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e um dos pais do Plano Real André Lara Rezende.
Para o economista, a “nova estratégia de desenvolvimento” deve ser “inclusiva e não só assistencialista”; deve priorizar a “renovação da indústria” visando à competitividade; e precisa estar comprometida com a “descarbonização energética”, com base na sustentabilidade ambiental.
CB