Mais de quatro dias após o massacre que culminou na morte de 56 detentos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, o presidente Michel Temer convocou uma reunião interministerial para hoje para discutir o assunto. Ontem, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que as autoridades amazonenses sabiam previamente de um plano de fuga articulado dentro do presídio. Já a Secretaria de Segurança do Amazonas determinou a transferência de oito presos identificados como líderes da matança para presídios federais. A crise levou o papa Francisco a pedir uma solução para o problema.
A rebelião em Manaus foi a mais violenta desde o massacre do Carandiru, em 1992. Além dos detentos do Compaj, outros quatro presos foram mortos na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP). Em silêncio desde a tragédia, Temer deverá se pronunciar sobre o assunto durante o encontro de hoje com ministros. A estratégia do governo federal é a de tentar atrelar a chacina a um problema específico da administração estadual e do presídio, e que isso não “contaminou” o restante do país. Especialistas, porém, avaliam que a superlotação e as condições precárias de vida dos presos são problemas nacionais.
O Brasil tem um deficit de 200 mil vagas nos presídios. O complexo de Manaus poderia receber 454 presos, mas abrigava 1.244 pessoas. As mortes no Compaj foram atribuídas a integrantes da facção Família do Norte (FDN), aliada ao Comando Vermelho, em retaliação ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Outros cerca de 200 presos fugiram do complexo penitenciário, segundo o ministro da Justiça. Em outubro do ano passado, autoridades locais relacionaram rebeliões, em presídios de Rondônia, de Roraima e do Acre que levaram à morte 22 presidiários, ao enfrentamento entre as facções, que haviam rompido. À época, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes chamou os motins de “mera bravata”.
Ontem, Moraes reuniu-se para debater a questão com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, que vai hoje ao Amazonas e disse que lançará o Plano Nacional de Segurança até o fim do mês. O pacote tem sido criticado por especialistas que tiveram acesso à versão prévia.
Moraes confirmou nesta quarta a informação de que a Secretaria de Segurança do Amazonas sabia de um plano de fuga entre o Natal e o réveillon. “Exatamente por isso, segundo as autoridades, foi reforçada a segurança e passaram a monitorar dia a dia”, disse. Moraes, porém, disse que será necessário conduzir uma investigação antes de responsabilizar quaisquer autoridades. Ontem, o governador do Amazonas, José Melo (Pros), disse à Rádio CBN que entre os mortos “não tinha nenhum santo”.
Correio Braziliense