Com o quadro eleitoral de 2018 ainda embolado, a convenção do PMDB que acontecerá nesta terça-feira não resolverá questões estratégicas, deixando temas palpitantes como a definição de uma candidatura própria ao Palácio do Planalto para março do ano que vem. Em vez disso, será ratificada a decisão do partido de mudar de nome, e voltar a se chamar Movimento Democrático Brasileiro (MDB). E feitas algumas adequações no estatuto partidário para incorporar as mudanças feitas na legislação com a aprovação da reforma política, em outubro.
Com uma aprovação de um dígito, o governo do presidente Michel Temer se apresenta como obstáculo para a realização do sonho do partido de lançar um peemedebista à Presidência. Embora alguns caciques sigam defendendo essa tese, o fato é que a sigla não conta com nomes de peso para a empreitada. E a tendência é que acabe apoiando algum candidato da base aliada que se proponha a encampar a defesa do legado do governo Temer — basicamente a sinalização de índices de recuperação da economia.
— Sempre defendemos uma candidatura própria, mas isso vai depender de termos um bom nome e de fazermos uma articulação. O partido vai batalhar por isso. Mas este foi um ano de superação. A questão eleitoral ficou para o ano que vem — explica o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP).
De fato o governo Temer teve que superar duas denúncias apresentadas pelo Ministério Público (MP) contra ele — uma por corrupção passiva e outra por organização criminosa e obstrução à Justiça — e depois tentou recompor sua base aliada para votar a reforma da Previdência. Essa é a principal agenda de Temer desde que assumiu o Planalto no lugar de Dilma Rousseff, de quem era vice-presidente, quando ela sofreu um impeachment, no ano passado. Mas teve que adiar a votação da reforma para fevereiro de 2018 por não ter o número de votos necessários para aprová-la.
A pretensão do PMDB de ter um nome forte para a corrida presidencial é permanente. Em 2014, quando Temer era presidente do partido, por pouco ele conseguiu apoio majoritário para dar continuidade à parceria com Dilma. Mais de 40% da sigla defendiam o rompimento com a petista e o lançamento de um quadro competitivo ao Planalto. A última vez que a disputa ao Planalto contou com um peemedebista foi em 1994, com Orestes Quércia.
PUNIÇÃO A PEEMEDEBISTAS ‘INFIÉIS’
Mas o imbróglio eleitoral do partido não se resume ao pleito presidencial. Nos estados, enquanto a legenda não decide como prosseguir nacionalmente, caciques peemedebistas já começam a se movimentar para suas próprias eleições. Alguns quadros importantes já manifestaram apoio à candidatura presidencial de Lula, como o senador Renan Calheiros (AL), que tentará renovar seu mandato no Senado. Outro senador dissidente, Roberto Requião (PR) deve contar com o apoio de Lula, caso decida concorrer ao governo do estado.
O caso de Requião, aliás, está no conselho de ética do partido. Ele é acusado de ter adotado posições “contrárias” às diretrizes do partido. Foi o mesmo caso da senadora Kátia Abreu (TO), expulsa do PMDB no fim do mês passado.
Outro quadro que está com a situação pendurada é o ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso após a descoberta de um bunker com mais de R$ 51 milhões. E ainda os cinco deputados que votaram contra o governo nas votações das denúncias. O PMDB fechou questão contra a aceitação da denúncia.
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), quer aproveitar a convenção de hoje para criar uma regulamentação sobre as punições de parlamentares infiéis. Hoje, quem desobedece as orientações do partido fica sujeito a uma decisão da Executiva.
— A decisão da Executiva é parcial. Se o parlamentar é querido por todos, fica sem punição. Se não, recebe uma sanção grave. Fica a critério dos membros da Executiva — observa um assessor do partido.
O Globo