Sergio Roxo e Thiago Herdy – O Globo
De dentro da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou ao PT, por carta, a preferência pelo nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad para vice na chapa do partido para a disputa presidencial. O assunto foi debatido neste domingo por mais de quatro horas, por integrantes da Executiva Nacional do PT que, em sua maioria, concordou com a indicação. Às 23h59 deste domingo, a escolha de Haddad foi anunciada oficialmente no Twitter do ex-presidente.
A indicação deflagra a construção de um plano B para a candidatura do partido ao Palácio do Planalto, se Lula for impugnado com base na Lei da Ficha Limpa. O ex-presidente foi condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá.
Avisados sobre a decisão petista durante reunião realizada na noite deste domingo, dirigentes do PCdoB decidiram retirar a candidatura de Manuela D’Ávila à Presidência, após receber do PT a promessa de que, no fim das contas, ela será indicada para o lugar de vice.
Caso Lula consiga levar adiante a candidatura, Haddad está disposto a abrir mão do posto para dar espaço à aliada na chapa. Se Lula for impugnado, Haddad assume a cabeça da chapa e Manuela entra como sua vice. De acordo com a legislação eleitoral, nomes da chapa presidencial podem ser alterados até 20 dias antes do pleito.
Durante reuniões na última quinta e sexta-feira na carceragem da Polícia Federal, onde cumpre pena desde 7 de abril, Lula já se mostrava decidido a indicar Haddad como seu vice. O ex-presidente orientou os dirigentes petistas que o visitaram a tentar postegar a formação completa da chapa até o dia 15 de agosto, data final para o registro de candidaturas.
Ao mesmo tempo, o ex-presidente também dava sinais de estar disposto a dar o braço a torcer.
— Faço o que for melhor para o partido — repetiu, algumas vezes.
Na carta enviada aos dirigentes petistas neste domingo, Lula enfatizou a importância de manter a aliança com o PCdoB na campanha presidencial. Neste domingo, o partido mantém esperanças de obter o apoio da legenda, mesmo com os comunistas ficando inicialmente sem representação na chapa presidencial.
Dirigentes das duas siglas se reuniram à tarde, mas não fecharam um acordo porque integrantes do PCdoB queriam que a presidenciável Manuela D’Ávila fosse convidada para a vice. Pela proposta petista, ela ficaria no “banco de reservas” e poderia ser indicada para o lugar de vice quando houvesse de fato a impugnação de Lula. O PCdoB, contudo, não aceitou a proposta.
Na nova incursão petista junto aos dirigentes do PCdoB, na noite deste domingo, o partido propôs que Manuela fique no “banco de reservas” de vice da chapa tanto para o caso de Lula conseguir estar na urna (neste caso Haddad deixaria o posto), quanto para a hipótese de impugnação da candidatura petista (neste caso, Haddad seria o nome da cabeça da chapa).
No sábado, os dirigentes mudaram o entendimento e passaram a avaliar que seria arriscado que a candidatura petista fosse a única a não ter os nomes do candidato a presidente e a vice definidos dentro do prazo final para a realização de convenções, neste domingo. Haveria risco de impugnação na Justiça Eleitoral, apesar de, em anos anteriores, definições da chapa realizadas entre os períodos de convenções e inscrição terem sido validadas.