Paulo Celso Pereira – O Globo
Em uma eleição repleta de incertezas, a inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era uma das poucas coisas garantidas desde janeiro, quando o Tribunal Regional Federal o condenou, unanimemente, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A Lei da Ficha Limpa, sancionada pelo próprio petista, é literal: são inelegíveis “os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado”. Este é o caso do TRF.
O julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, na sexta-feira, foi apenas o epílogo da longa jornada político-jurídica desenvolvida pelo ex-presidente há dois anos e meio. Na manhã de 4 de março de 2016, a Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão no apartamento do ex-presidente, em São Bernardo, e o levou para prestar depoimento.
Ao sair da sala da PF no aeroporto de Congonhas, Lula seguiu para a sede do PT, anunciou que estava disposto a se candidatar em 2018, que iria “andar o país” e sacramentou: “A jararaca está viva”. Naquele momento, o caso do triplex no Guarujá, pelo qual ele acabou condenado, já estava adiantado, assim como seu vínculo com o sítio de Atibaia — cujo processo até hoje não foi julgado.
Diante da dificuldade de defender-se juridicamente, o ex-presidente optou por uma batalha política que, efetivamente, reorganizou a militância petista e sua base eleitoral. Dez dias depois daquele discurso, o Datafolha fez uma pesquisa eleitoral que mostrava Lula com 17% de intenções de voto, atrás de Marina Silva, com 23%. Naquele momento, Geraldo Alckmin tinha 11%; Ciro Gomes, 7%; e Jair Bolsonaro ainda estava reduzido a 6%.
Em dois anos, o petista mais que dobrou sua intenção de voto — figurou com 39% no Datafolha da semana passada —, mobilizou as ruas e até intelectuais em torno de uma pauta de enfrentamento das instituições constituídas e reorganizou o PT, após o partido ser devastado na eleição municipal de 2016.
Agora, começa a nova etapa da estratégia lulista. O PT promete recorrer a todas as instâncias possíveis para levar Lula às urnas. O caminho mais óbvio, no entanto, seria anunciar prontamente a candidatura de Haddad. Isso porque a propaganda de rádio e TV, da qual Lula está afastado a partir do julgamento do TSE, é imprescindível para a transferência de parte significativa dos votos do ex-presidente para o ex-prefeito.
Se o partido não cometer erros graves, são reais as chances de o lulismo, exacerbado nos últimos dois anos, levar Haddad ao segundo turno. A partir daí, é uma loteria. Hoje, Lula é o nome mais popular da eleição, mas só é menos rejeitado que Bolsonaro.