Pernambuco perdeu metade da caatinga, diz estudo

Apenas 30,3% das  áreas de preservação  permanente (APP) estão protegidas por floresta

Dos quase sete milhões de hectares de caatinga mapeados em Pernambuco, pouco mais da metade do bioma (51,06%) foi perdida para áreas de uso agropecuário – com uma grande parcela voltada a pastagens – enquanto só 46,89% do Estado ainda possui florestas de caatinga conservadas. Quando consideramos as áreas às margens de cursos hídricos que, por lei, deveriam estar ocupadas por florestas, temos um dado alarmante: Apenas 30,3% das áreas de preservação permanente (APP) estão protegidas por floresta, estando 64,43% ocupadas por atividades agropecuárias.

É o que aponta um levantamento pioneiro feito pelo Centro de Pesquisas Ambientais (Cepan) em parceria com o Laboratório de Ecologia Aplicada da UFPE, cuja intenção é identificar áreas-chave para a restauração florestal na Caatinga nos dez estados brasileiros onde o bioma está presente, entre eles, Pernambuco. A metodologia permitirá também a identificação de passivos ambientais, que são os danos gerados ao meio ambiente em decorrência das atividades de empresas e que não foram controlados ao longo dos anos de suas operações no País e a estimativa de recursos necessários para a sua recuperação, assim como os ganhos ambientais decorrentes de uma restauração florestal refletem na qualidade de vida de comunidades que vivem nessas áreas.

“Por exemplo, como a alocação de florestas em áreas de recargas de aquífero pode contribuir para uma melhoria da sustentabilidade hídrica de determinada região, pelo fato de a vegetação permitir uma maior infiltração de água. Essas variáveis estão sendo verificadas no mapeamento. Estão sendo feitas também caracterizações de tipos de solo, geomorfologia, clima, precipitação, entre outros dados que irão nos dar base para seguirmos nas análises, como também estamos fazendo a secção dos dados por estado para podermos comparar os passivos (ambientais) de cada um”, afirma o estudioso. Além de Pernambuco, fazem parte desse mapeamento os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Piauí, Ceará e o norte de Minas Gerais.

De acordo com um dos pesquisadores do projeto pelo Cepan Joaquim Freitas, o levantamento servirá de documento norteador, por trazer um retrato geral da caatinga. Em relação aos dados compilados para Pernambuco até o momento, nos quais foram percebidos que mais da metade da caatinga no Estado perde para a agropecuária, Freitas analisa que tais informações apontam para uma maior atenção do poder público em se atentar para alternativas que protejam o pouco da caatinga que o Estado ainda tem.

“Se Pernambuco ainda possui 46,89% de áreas florestadas, isso é um indicativo de que ainda possuímos um grande capital natural a ser protegido. Um dado como esse direciona para a importância da criação de mais unidades de conservação do bioma, visando salvaguardar essa biodiversidade”, sugere. No âmbito nacional, o País tem aproximadamente 59,4% de áreas florestadas, enquanto que áreas agrícolas ocupam 37,9%. “Um retrato de que temos ainda um caminho pela frente na implementação das políticas previstas no Código Florestal para que alcancemos uma plena adequação ambiental de nossos imóveis rurais”, complementa Freitas.

Segundo o pesquisador associado do Cepan, o mapeamento é um dos passos necessários para que a União, estados e municípios implementem a Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração (Roam). Desenvolvida a partir de uma parceria entre a União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) e o World Resources Institute (WRI), a Roam apoia o desenvolvimento de estratégias e programas de restauração em nível subnacional e nacional.

“Com esse documento inicial montado serão realizados diversos workshops, com representantes de todos os estados da caatinga para a discussão e aprimoramento desses dados. A ideia é congregar cientistas, ONGs, gestores ambientais e representantes de produtores agrícolas do bioma para, com a apresentação dos dados, podermos discutir ajustes e direcionamentos de políticas para elaborarmos um documento final”, finaliza Joaquim Freitas.

Folha de PE

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