Paulo Gustavo morre aos 42 anos, vítima da Covid-19

O ator e comediante Paulo Gustavo morreu, nesta terça-feira, aos 42 anos, por complicações da Covid-19. O humorista travou uma longa batalha contra a doença desde a sua internação, no dia 13 de março, no hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio. No dia 2 de abril, seu estado de saúde se agravou e a equipe médica decidiu iniciar terapia por ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea), que funciona como um pulmão artificial.

Ele estava intubado desde o dia 21 de março e vinha apresentando melhoras discretas em seu quadro. Entre domingo e segunda-feira, porém, o ator teve sua situação agravada em decorrência de uma fístula bronquíolo-venosa, que permitiu a passagem de bolhas de ar na corrente sanguínea, causando uma embolia, incluindo o sistema nervoso central.

Nas últimas semanas, amigos, familiares e fãs do comediante se mobilizaram na torcida pela sua recuperação. O marido de Paulo Gustavo, o médico Thales Bretas, fez um desabafo em seu perfil no Instagram, afirmando que estava passando por “dias difíceis” e pedindo orações para o comediante. Nos comentários, ele recebeu muitas palavras de apoio de artistas como Larissa Manoela, Bruna Marquezine, Monique Alfradique, Giovanna Lancellotti e Ludmila Dayer.

Ao longo de todo período da internação, a humorista Tatá Werneck foi uma das mais ativas na corrente de oração pela saúde do amigo. No Twitter, ela compartilhou dezenas de histórias de recuperação de pacientes graves para enviar força ao comediante.

A morte foi confirmada pela assessoria do ator. Paulo Gustavo deixa o marido, Thales Bretas, com quem era casado desde dezembro de 2015, e dois filhos, Romeu e Gael, de um ano e meio.

Carreira

A primeira vez que Paulo Gustavo pensou que gostaria de ser ator foi ainda criança. Ao assistir uma montagem da peça “O gato de botas” — baseada no conto de Charles Perrault e adaptada por Maria Clara Machado —, ele teve a sensação de que queria estar no palco, e não na plateia. Aquele “estalo” se tornou a semente de um desejo que ele foi amadurecendo, até decidir ingressar no curso da Casa das Artes de Laranjeiras, a CAL, em 2002.

No espaço, um dos mais tradicionais da formação de atores no Rio, ele foi colega de turma de Fabio Porchat e Marcus Majella. Os três se tornaram grandes amigos e parceiros na profissão. Dois meses após terminarem o curso, em 2005, Porchat e Paulo Gustavo estrearam a peça “Infraturas”, que tinham escrito juntos — Porchat lembra que a empreitada dos dois foi um fracasso de público.

Ali, entretanto, já tinha surgido a personagem que viria a consagrá-lo. No ano anterior, Paulo Gustavo foi convidado por sua amiga, a atriz Samantha Schmütz, a fazer uma participação especial na peça “O surto”, que vinha tendo sucesso. Foi nessa ocasião que o ator apresentou pela primeira vez Dona Hermínia para o público. O esquete de oito minutos fez com que o ator sentisse o potencial da personagem. A recepção do público foi tão boa que a participação especial virou um quadro fixo na peça.

Assim, após encerrar a temporada de “Infraturas”, “sem um puto no bolso, sem dinheiro de passagem”, Paulo Gustavo sabia que precisava trabalhar. Daí veio a ideia de transformar Dona Hermínia na protagonista de um monólogo. Após três meses de trabalho, nascia “Minha mãe é uma peça” , inspirada na sua mãe, Dona Déa Lúcia .

Sem dinheiro para montar o espetáculo, ele procurou a diretora do Teatro Candido Mendes, onde tinha encenado “Infraturas”. Apresentou o projeto, pediu uma oportunidade e levou. Com o teatro, mas sem equipe, marcou uma reunião com o diretor João Fonseca e outras pessoas. Sua proposta era: pago 2% da bilheteria para cada um até fechar o dobro do valor que eles receberiam por aquele trabalho, tamanha era sua convicção no monólogo. O cenário foi todo parcelado com cheques de familiares.

A aposta arriscada se revelou um gol de placa. Em menos de dois meses, já havia sessões extras e o espetáculo se tornou um fenômeno visto por mais de 2 milhões de espectadores, além de render ao ator o Prêmio Shell em 2006.

O sucesso nos palcos abriu as portas da TV para Paulo Gustavo, que em 2011 passou a apresentar o “220 volts” , programa de esquetes do canal Multishow. Nos anos seguintes, protagonizou os humorísticos “Vai que cola” e “A vila” . No ano passado, a TV Globo confirmou a adaptação em série “Minha mãe é uma peça” para o Globoplay.

As histórias de Dona Hermínia (interpretada por Paulo Gustavo) e seus dois filhos, Juliano (Rodrigo Pandolfo) e Marcelina (Mariana Xavier), chegaram ao cinema em 2013, com “Minha mãe é uma peça — O filme”, que também foi sucesso de público, visto por mais de 4 milhões de espectadores.

Outras duas sequências vieram em 2016 e 2019, também batendo recordes de bilheteria. O segundo longa levou 9,3 milhões de pessoas ao cinema , e a terceira parte da franquia é considerada a recordista de bilheteria do cinema nacional, com 11,6 milhões de espectadores — “Nada a perder” (2018) , cinebiografia do bispo Edir Macedo chegou à marca de12,1 milhões de ingressos vendidos, mas paira a suspeita de que parte deste total tenha sido adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus e distribuída entre os fiés, diante de relatos de sessões esgotadas mas quase sem público . Em sua estreia, em dezembro de 2019, “Minha mãe é uma peça 3” chegou a bater “Star Wars — Ascensão Skywalker” , que estava em sua segunda semana em cartaz.

Além da trilogia de Dona Hermínia, Paulo Gustavo participou de outros sucessos de bilheteria como “O divã” (2009), “Vai que cola — O filme” (2015) e “Os homens são de marte…e é pra lá que eu vou” (2014) e “Minha vida em Marte” (2018) , ambos protagonizados e roteirizados por sua amiga Mônica Martelli.

O Globo

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