A pouco mais de 40 dias do início oficial da campanha eleitoral, que começa em 16 de agosto, Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) se articulam para assegurar palanques nos estados e ampliar as bases de apoio em todo o Brasil. As informações são do G1.
Na mais recente pesquisa Datafolha, de 23 de junho, Lula lidera com 47%, seguido de Bolsonaro, com 28%, e de Ciro, com 8%.
A situação envolve desafios: em Minas Gerais, por exemplo, Bolsonaro não pode subir no palanque de Romeu Zema (Novo). Zema é líder, com 48%, contra 21% do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), na mais recente pesquisa Datafolha entre os candidatos ao governo do estado. Isso porque o Novo, partido de Zema, tem candidato próprio à Presidência da República: Luiz Felipe D’Ávila.
Só que D’Ávila não pontuou na última pesquisa presidencial do Datafolha, de junho, enquanto Bolsonaro é vice-líder, com 28%, atrás de Lula, com 47%. O candidato do partido de Bolsonaro, Carlos Viana, vai mal na pesquisa eleitoral: ele tem 4% no Datafolha ao governo de Minas.
Lula, por exemplo, tem palanque dividido em Pernambuco: Marília Arraes, que deixou o PT no início do ano e é candidata a governadora pelo Solidariedade, declarou apoio ao ex-presidente. Mas o candidato oficial de Lula ao governo do estado é o deputado federal Danilo Cabral, do PSB de Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidente com Lula.
No Ceará, o PT de Lula e o PDT de Ciro Gomes comandam juntos o governo do estado numa aliança desde 2006. Só que a eleição presidencial ameaça ruir essa união: o PT defende que a governadora Izolda Cela, do PDT, seja candidata à reeleição –ela é casada com um político petista e ligada ao ex-governador petista Camilo Santana.
Mas, se oficializada a candidatura de Izolda, ela terá que declarar apoio a Ciro, porque são do mesmo partido –o que deixaria Lula sem palanque oficial no estado. A ala do PDT mais ligada a Ciro Gomes quer Roberto Cláudio, ex-prefeito de Fortaleza, como candidato ao governo estadual. O PT local não descarta candidatura própria, o que encerraria a aliança de 16 anos com o PDT no estado.
Segundo Claudio Couto, cientista político da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, a eleição dividida entre Lula e Bolsonaro provoca um questionamento nos candidatos aos governos estaduais. Eles pensam duas vezes antes de declarar apoio explícito a um ou outro, diz o cientista, para não “se queimar com eleitor demarcando uma candidatura presidencial que pode tirar voto dele”.
E há os desafios regionais em regiões do país: “Ser apoiador de Lula no Centro-Oeste, por exemplo, é difícil nessa altura. Tem sido uma região com eleitor mais simpático ao Bolsonaro no geral. A mesma coisa com Bolsonaro no Nordeste, região mais apoiadora de Lula. A não ser que o político não tenha mesmo opção, tem gente que não tem como disfarçar quem defende no nacional”, diz Couto.
Alianças
A oficialização será apenas em agosto, mas o PL de Bolsonaro indica aliança com PP e Republicanos, siglas que integram a base do atual governo. Braga Netto (PL) é o favorito para a vice-presidência.
O PT de Lula já firmou acordo com o PSB (do vice Geraldo Alckmin), PCdoB, Partido Verde, PSOL, Rede e Solidariedade. Os partidos trabalham em conjunto para construir o plano de governo da chapa Lula/Alckmin.
O PDT é o único entre os três mais bem colocados na pesquisa Datafolha que estará sozinho. Ciro Gomes tentou o apoio da 3ª via, mas não deve ter outras siglas em seu palanque nacional. O quadro repete 2018, quando o PDT teve na chapa Ciro e Kátia Abreu (à época filiada ao PDT e hoje no PP).
Veja a situação de cada presidenciável:
Bolsonaro (PL)
Presidente negocia para que alguns partidos menores desistam da candidatura nacional para ter palanques em determinados estados. Outro desafio é convencer candidatos a governadores que não querem se indispor a Lula ou Ciro Gomes. Em quatro estados, dois ou mais candidatos tentam puxar para si e tirar dos concorrentes a ida de Bolsonaro a seus palanques.
Cenário:
- Minas Gerais: Bolsonaro não tem o palanque do favorito Zema – atual governador e favorito na disputa, Romeu Zema (Novo) não poderá ter Bolsonaro no seu palanque porque o Novo tem candidatura própria à Presidência. Bolsonaro terá apoio de Carlos Viana, de seu partido, que tem 4% no último Datafolha.
- Rio de Janeiro: sem ataques a Lula – o governador Cláudio Castro, do PL, partido de Bolsonaro, já disse que apoiará o atual presidente, mas que não criticará Lula, o principal adversário de Bolsonaro na disputa presidencial. Castro está empatado tecnicamente na liderança com Marcelo Freixo (PSB), o candidato de Lula, segundo o último Datafolha para governo do RJ.
- Nordeste comprometido: Bolsonaro não tem candidatos ainda no Rio Grande do Norte e em Sergipe –neste último, Valmir de Francisquinho era o nome escolhido para concorrer pelo PL de Bolsonaro, mas foi impedido de concorrer após condenação pelo TSE por abuso de poder econômico.
- Palanque duplo: parece bom, mas não é bem assim – candidatos a governador bolsonaristas disputam o apoio do presidente no Rio Grande do Sul (Onyx Lorenzoni, do PL, e Luiz Carlos Heinze, do PP), Rondônia (Marcos Rogério, do PL, e o atual governador Marcos Rocha, do União Brasil), Roraima (atual governador Antonio Denarium, do PP, Teresa Surita, do MDB, e Isamar Ramalho, do PSC) e Santa Catarina (governador Carlos Moisés, do Republicanos, Jorginho Melo, do PL, e o ex-prefeito de Florianópolis Gean Loureiro, do União Brasil). Por que o palanque duplo pode ser ruim: porque um dos candidatos pode tentar impedir que Bolsonaro vá ao palanque do rival, ainda que ambos defendam o presidente.
- Amapá: ruim para Bolsonaro, ruim para Lula – o estado tem a inusitada junção do PL de Bolsonaro e do PT de Lula no mesmo palanque. Os partidos de Bolsonaro e Lula vão apoiar o candidato a governador Clécio Luís (Solidariedade), favorito à corrida estadual. Ele não disse quem apoiará para presidente.
Lula (PT)
O pré-candidato do PT tem pela frente palanques duplos a desfazer, assim como Bolsonaro –a disputa entre dois apoiadores locais pode trazer empecilhos ao presidenciável. Lula também precisará negociar em estados sem palanques definidos. O desafio é conciliar os interesses regionais dos seis partidos que formam a chapa Lula/Alckmin.
Cenário:
- Ceará: meio apoio ou fim da aliança com PDT – Lula disputa com Ciro Gomes o apoio do grupo governista, que tem na atual governadora, Izolda Cela (PDT), a candidata da esquerda no estado. Izolda é apadrinhada politicamente pelo PT e, ao assumir o cargo de governadora, em abril, disse que apoiaria Ciro Gomes. Ela é afilhada política de Camilo Santana, do PT, que antecedeu no cargo e concorrerá a senador. Ainda assim, uma pedetista na disputa tira o palanque oficial de Lula no Ceará. Pode piorar: o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e a ala ligada a Ciro Gomes defendem a candidatura a governador de Roberto Cláudio, também pedetista e ex-prefeito de Fortaleza. Cláudio é desafeto do PT. Os dois partidos mantêm uma aliança no estado desde 2006, e a escolha de Cláudio pode fazer os petistas lançarem candidatura própria.
- Pernambuco e Rio Grande do Sul: palanque duplo (parece bom, mas não é bem assim) – Em Pernambuco, Marília
- Arraes, que deixou o PT no início do ano, é candidata a governadora pelo Solidariedade e declarou apoio ao ex-presidente. Mas o candidato oficial de Lula ao governo do estado é o deputado federal Danilo Cabral, do PSB de Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidente com Lula. Por que o palanque duplo pode ser ruim: porque um dos candidatos pode tentar impedir que Lula vá ao palanque do rival, ainda que ambos defendam o presidente. No Rio Grande do Sul, Beto Albuquerque (PSB) e Edegar Pretto (PT) surgem como interessados a representar a chapa Lula/Alckmin localmente. Os dois partidos não abrem mão de candidatura própria.
- Sem candidatos em estados bolsonaristas: em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados com forte apoio a Bolsonaro, não há candidatos petistas ao governo
- Pará: Lula quer Helder, que declarou apoio a Tebet – o governador paraense é do MDB e declarou apoio a Simone Tebet, que tem 1% no último Datafolha. Lula tenta o apoio dele; para isso, conta que a candidatura de Tebet não decole e ela desista antes de agosto.
- Paraíba: Lula contra a chapa nacional – o PSB, do vice Alckmin, terá João Azevedo para a reeleição, enquanto Lula diz em visita ao estado que apoiará Veneziano Vital do Rego (MDB) pela antiga ligação com o ex-governador petista Ricardo Coutinho. Nó a ser desatado.
Ciro (PDT)
Empenho do pré-candidato envolve trabalho maior do que os de Bolsonaro e Lula, segundo especialistas ouvidos pelo g1. Ciro terá de alavancar ao mesmo tempo a sua candidatura e a dos candidatos do PDT nos estados, pois o partido não tem aliança nacional com outra sigla. Estagnado na 3ª posição com 8 pontos na intenção de votos no último Datafolha, a missão é atrair apoio em eleições regionais tão polarizadas quanto a nacional.
Cenário
- Ceará – impasse: o presidente do PDT e a ala cirista do partido defendem a candidatura do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio ao governo do estado, o que daria a Ciro um palanque em seu berço político. A governadora Izolda Cela é do seu partido, o PDT, mas tem como padrinho político de seu grupo Camilo Santana, do PT de Lula. Ela quer ser candidata à reeleição.
- Em estados maiores, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o PDT não possui pré-candidatos fortes para disputar o governo. Segundo o último Datafolha, por exemplo, o candidato de Ciro e do PDT, Elvis Cezar, tem 1% na pesquisa em São Paulo. No Rio, o pedetista Rodrigo Neves é o terceiro, com 7%, distante de Castro e Freixo. Em Minas, Miguel Correa tem 2% da preferência do eleitorado, ainda segundo o Datafolha, longe dos favoritos Zema e Kalil.
- Indefinição: em estados como Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Roraima, Ciro ainda não tem palanque definido ou encaminhado para outubro.
- Piauí: apoio sem favoritismo – Ciro conseguiu aliança, apesar da polarização local, e o PDT estará com Sílvio Mendes (União Brasil) no pleito ao governo do estado, mas candidato não é favorito à eleição.
Eleição crítica
Claudio Couto, cientista político da FGV, diz que as eleições estaduais costumam ter dinâmica própria. O normal é não terem ligação direta com a nacional, quadro que ocorreu com mais força em 2018. Couto a define como “eleição crítica” por trazer grandes mudanças.
“A eleição de 2018 não é uma eleição típica, é muito particular. Houve a quebra da polarização solidificada no Brasil entre PSDB e PT, com o PSDB desaparecendo [nacionalmente]”, afirma o cientista. Para ele, as disputas estaduais de outubro não sofrerão influência tão fonte quanto a nacional exerceu quatro anos atrás.