Senadores se irritam com campanha bolsonarista pró-Marinho

Senadores de vários partidos estão irritados com ameaças que têm recebido de bolsonaristas nos e-mails e telefones de gabinetes, pressionando-os a votar no ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN) para a presidência da Casa e cobrando posicionamento contra Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que busca a reeleição. O movimento se intensificou depois do 8 de Janeiro, quando extremistas de direita invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Na avaliação de senadores ouvidos pelo Poder360, a enxurrada de mensagens surte efeito contrário ao pretendido e atrapalha Marinho. Alguns dizem que não faz sentido ceder à demanda de pessoas que, há menos de 2 semanas, apoiaram os atos de violência no Congresso.

Na 2ª feira (16.jan.2023), a PGR (Procuradoria-Geral da República) atendeu representação assinada por Pacheco e denunciou ao STF (Supremo Tribunal Federal) 39 pessoas que invadiram o Senado. Um dos e-mails pede para um senador não apoiar “um inerte” e nem “trair” o povo. Em um gabinete, um homem telefonou para implorar, aos berros e “pelo Brasil”, que o congressista que lá trabalha não votasse em Pacheco.

“Está passando de todos os limites. A maioria do pessoal que fala isso não conhece a realidade da presidência do Senado”, disse Vanderlan Cardoso (PSD-GO), que apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições.

Um e-mail enviado para 36 senadores diz que Pacheco “omitiu-se diante dos inúmeros pedidos de impeachment contra ministros do STF sob acusação de quebra da independência, harmonia e interferências indevidas nos demais poderes constitucionais”.

Rodrigo Pacheco foi eleito presidente do Senado em 2021 com apoio de Bolsonaro, mas afastou-se do então chefe do Executivo no ano final de seu mandato e, agora, conta com o apoio explícito do PT e tácito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na busca pela reeleição.

Aliados de Marinho dizem que o senador eleito não tem nenhuma ingerência sobre a campanha de pressão e afirmam que o movimento é espontâneo.

“Não estimulamos e nem compactuamos com agressões contra qualquer senador. O senador Rogério Marinho tem conversado com os seus pares, buscando a sensibilização a partir de uma plataforma que defende a preservação das conquistas na área econômica, mas principalmente a defesa da liberdade, da separação dos poderes e da inviolabilidade dos mandatos”, disse a equipe do ex-ministro em nota.

Algumas das mensagens pedem, também, que a votação para a presidência do Senado seja aberta. O regimento interno da Casa estabelece voto secreto. Ganha quem tiver a maioria dos votos dos senadores presentes na sessão da eleição. Como há 81 senadores, 41 votos garantem a vitória.

Weverton Rocha (PDT-MA) afirmou entender que a eleição no Senado interesse à sociedade, mas disse que a mobilização nas redes está se desdobrando sem “discussão aprofundada” e com “argumentos absurdos”, além de comentários “que claramente não foram escritos pela pessoa que postou”.

“Espero que a história recente tenha nos ensinado o quanto pode dar errado inflamar os ânimos eleitorais para garantir mobilização. Eleição é coisa séria e esperamos que os debates evoluam da forma mais civilizada possível”, afirmou ao Poder360.

Aliado de Marinho, o senador Carlos Portinho (PL-RJ) afirmou que o movimento é “orgânico” e surgiu no domingo (15.jan), antes da reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que definiu o endosso do partido à candidatura do ex-ministro.

“Tenho acompanhado e acho que é normal, porque a eleição é pauta da imprensa e da sociedade. Agora é a eleição mais importante que existe”, disse Portinho ao Poder360.

“A cobrança tem que ser civilizada, mas sempre existiu em outras eleições. Absolutamente natural, há uma insatisfação da sociedade com o Senado e isso confirma esse sentimento que todos nós temos no Senado, de redução do seu tamanho e da sua importância”, acrescentou. Na madrugada desta 5ª (19.jan), Portinho pediu em seu perfil no Twitter que os participantes do movimento peçam votos “CIVILIZADAMENTE” e cobrem os senadores com “respeito”.

Poder360

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