Luciene de Lima Silva, de 51 anos, perdeu a vida tentando salvar a filha. Ao ouvir os gritos de socorro, em casa, ela não teve dúvidas: lutou com todas as forças para conter o ex-genro, que não aceitava o fim do relacionamento. Luciene acabou atingida a facadas e morreu após socorro. A filha também se feriu, mas sobreviveu. O crime aconteceu no bairro de Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, em 14 de junho. O autor está preso aguardando julgamento.
Luciene foi uma das 37 vítimas de feminicídio contabilizadas pela polícia no primeiro semestre deste ano em Pernambuco. Houve aumento de 15,6% em relação ao mesmo período de 2023, quando 32 mulheres perderam a vida. As tristes estatísticas reforçam que a cultura machista e o sentimento de posse ainda permanecem muito presentes e matam inocentes no País.
“A maioria das vítimas de feminicídio nunca denunciou algum tipo de violência sofrida, por isso a gente insiste para que as mulheres denunciem no primeiro sinal. Nunca é demais bater nessa tecla”, afirmou a delegada Fabiana Leandro, gestora do Departamento de Polícia da Mulher (DPMul).
De janeiro a junho, 26.646 queixas de violência doméstica/familiar foram registradas no Estado. A média diária foi de 148 denúncias. O número é altíssimo, mas a polícia enxerga como positivo. Indica que mais vítimas estão procurando ajuda e a rede de proteção pode agir para quebrar o ciclo de violência.
Fabiana Leandro destacou que a polícia, junto à Secretaria Estadual da Mulher, vem intensificando ações – principalmente em comunidades – para incentivar que as mulheres denunciem os agressores. “Fazemos questão de mostrar que as leis mudaram, evoluíram. Houve muita luta para chegarmos até aqui, para termos o direito de igualdade reconhecido pela lei”, pontuou Fabiana.
Hoje, Pernambuco conta com 15 delegacias especializadas no atendimento à mulher. Sete delas funcionam 24 horas. Mas a gestora da DPMul reforçou que os policiais das outras unidades estão passando por capacitações periódicas para atualização das leis referentes à violência contra a mulher.
MEDIDAS PROTETIVAS
No último mês, cinco agressores foram presos por descumprimento de medidas protetivas no Grande Recife. Em dois casos, as vítimas acionaram a Unidade Portátil de Rastreamento (UPR), popularmente conhecida como “botão do pânico”.
A ferramenta é disponibilizada às mulheres quando os agressores denunciados por elas são monitorados eletronicamente. Caso eles descumpram a medida protetiva, elas podem fazer o acionamento, sem a necessidade de telefonar para o Centro de Monitoramento Eletrônico de Pessoas (Cemep).
Mas muitas das vítimas não têm conhecimento da ferramenta. “Muitas vezes, o oficial de justiça não encontra a mulher, porque ela mudou de endereço, por exemplo. É importante que elas tenham acesso ao aparelho, porque é mais uma forma de proteção”, disse a delegada.
As vítimas que têm direito ao botão, mas ainda não tiveram acesso a ele, podem entrar em contato pelo telefone: (81) 9.9488.3763.
O Senado aprovou, na última quarta-feira (10), um projeto de lei que prevê a instalação de bancos vermelhos em locais onde há grande circulação de pessoas, com informações de canais de denúncia de violência contra a mulher. O texto seguiu para a sanção presidencial.
O projeto, de autoria da deputada Federal Maria Arraes (Solidariedade/PE), foi criado a partir da iniciativa do Instituto Banco Vermelho, movimento nacional de proteção à mulher e combate aos feminicídios.
JC/NE10