A necessidade de dar visibilidade aos impactos do racismo

Racismo

“Você não é negro. Você é moreninho”. “Só podia ser coisa de preto”. “Estou fedendo igual a preto”. “Vocês, negros, são muito vitimistas”. Frases como essas são quase um bordão no dia a dia da população negra, seja no trabalho, faculdade ou ao passar pela rua. E nesta segunda-feira (20), quando o calendário nacional marca o Dia da Consciência Negra, em referência à morte de Zumbi dos Palmares, último líder do maior quilombo do período colonial, expressões como essas só evidenciam a necessidade de dar visibilidade aos impactos do racismo a fim de influenciar ações de enfrentamento da discriminação e violência contra pessoas negras.

Os números não negam a realidade. Se nas últimas décadas os homicídios contra jovens negros tiveram um crescimento tímido (sendo 2,5% só no ano 2000, por exemplo), entre 2005 e 2015, no entanto, houve um aumento de 17,2% na taxa de homicídio de negros entre 15 e 29 anos. Foram 318 mil. É o que mostra o relatório Atlas da Violência 2017, divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG especialista no assunto. O perfil típico das vítimas, aponta a pesquisa, é sempre o mesmo: homens, jovens, negros e com baixa escolaridade.

No Recife, uma série de ações acontecerá para relembrar a data. Na Assembleia Legislativa, a Comissão de Cidadania da Casa promove, às 9h, audiência pública com debate focado no enfrentamento ao racismo e na construção do povo negro. No bairro de Tejipió, na Zona Oeste do Recife, estudantes da Escola Estadual Alberto Torres discutirão, de hoje até a próxima sexta-feira (24), o papel do negro na sociedade em várias esferas como na moda, música, mercado de trabalho, esporte e educação.

“Na quarta-feira, por exemplo, apresentaremos esquetes com cenas corriqueiras do dia a dia para mostrar que agimos com preconceito sem nem percebermos. Que, infelizmente, é algo culturalmente incrustado na sociedade. A ideia é criar nas pessoas um pensamento crítico sobre o assunto”, explica o professor de língua portuguesa da instituição, Eduardo Andrade.

Na avaliação da procuradora Maria Bernadete Figueiroa, que também atua como coordenadora do GT Racismo do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o retrocesso político no qual passa o País contribui para o desaceleramento de políticas voltadas à população negra. “Não há investimento para capacitar equipes técnicas nas políticas de enfrentamento à violência, exigindo um esforço ainda maior de instituições da Justiça. A mídia, por exemplo, não dá evidência ao genocídio da população negra. É uma realidade diária, mas que é invisibilizada. Esse racismo institucional faz com que a própria sociedade naturalize a situação, ou seja, ache normal matar o preto pobre”, observa, reforçando que o Dia da Consciência Negra é um marco para resgatar a dignidade e a resistência negra desde a época de Zumbi, tido como um grande herói do povo negro.

Folha de PE.

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