Folha de S.Paulo – Catia Seabra , Talita Fernandes e Thais Bilenky
A três dias da eleição, com a liderança de Jair Bolsonaro (PSL) consolidada nas pesquisas, o último debate da corrida presidencial, na TV Globo, nesta quinta-feira (4), foi permeado pelo antipetismo.
Segundo colocado nas pesquisas, o candidato Fernando Haddad (PT) foi objeto de críticas de adversários à direita e também daqueles que disputam o mesmo eleitorado que o petista.
Bolsonaro foi atacado por sua ausência, mas sobretudo por sua candidatura, entendida por oponentes como um risco de instabilidade democrática ao país.
Marina Silva (Rede) foi aplaudida ao dizer que o capitão reformado “mais uma vez amarelou”.
Henrique Meirelles (MDB) afirmou que, “se alguém se esconde e só vai dar entrevista em situação de absoluto controle, amigável, significa, na minha visão, que não tem condições de administrar o país”.
Em uma dobradinha, Guilherme Boulos (PSOL) e Haddad disseram que eventual eleição de Bolsonaro pode levar o país de volta a uma ditadura autoritária.
“Não dá para fingir que está tudo bem. Faz 30 anos que saímos de uma ditadura. Muita gente morreu, muita gente foi torturada, até hoje tem mãe que não conseguiu enterrar seu filho”, afirmou Boulos.
“Temos que botar a bola no chão e dizer ‘ditadura nunca mais'”, declarou. Haddad concordou com “os riscos que estamos correndo”.
Em outro momento, dirigindo-se ao petista, Marina citou a alta rejeição dos dois líderes –45% de Bolsonaro e 40% do petista, segundo o Datafolha. “O Brasil está à beira de ir para um esgarçamento sem falta”, afirmou.
Haddad rechaçou a comparação. “O Lula instituiu o ódio? Quando isso? Tratou do servente ao empresário da mesma maneira. Ele governou olhando para os mais pobres, que é o que eu pretendo fazer”, afirmou.
Marina afirmou ser lamentável a incapacidade, segundo ela, de Haddad reconhecer erros, “como se pedir desculpas fosse um problema. Não é. A gente tem que pensar em projeto de um país, não em projeto de poder”, disse. “O Brasil está à beira de um esgaçamento sem volta.”
Fernando Haddad discordou. “Não vou jogar a criança com água do banho”, afirmou, ao dizer que reconhecia erros, mas que os acertos do PT eram maiores.
Estagnado em terceiro lugar, em empate técnico com Ciro Gomes (PDT), o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) antagonizou com o PT.
“Vemos no Brasil o resultado de um grande equívoco de natureza econômica. O PT gastou mais do que arrecadava”, criticou. “Precisamos fazer as reformas rápidas no começo do governo e o Brasil vai voltar a crescer. Não acredito que o PT nem o Bolsonaro vão tirar o país da crise”, disse o candidato tucano.
Alvaro Dias (Podemos) foi o único que procurou preservar Bolsonaro, alimentando rumores de que estaria disposto a apoiá-lo em eventual segundo turno e até ocupar um cargo em seu governo.
Dias preferiu concentrar ataques ao PT, associando-o à corrupção. Mostrou um envelope dizendo que pediria a Haddad que levasse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso em Curitiba, mas, segundo ele, é quem dá as cartas na candidatura petista.
“Em matéria de gastos públicos, vocês gastaram horrorosamente, especialmente na Petrobras. Gastaram não, roubaram o dinheiro público, pilharam”, afirmou o candidato do Podemos a Haddad.
O petista foi para o enfrentamento. “Você deveria ter mais compostura”, reagiu. Citando programas dos governos petistas como Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos e Prouni, disse que o que o adversário pudesse imaginar “foi feito nos governos nossos com os resultados sociais conhecidos”. “Vamos retomar muita coisa que vocês estão destruindo.”
Ciro afirmou que a polarização no país é fruto do “choque entre duas personalidades exuberantes, o lulismo e o antilulismo, que o Bolsonaro representa”. Então, contrapôs-se. “Não existe salvador da pátria.”
Em outro momento, o pedetista voltou a combater “a radicalização estúpida que o Bolsonaro representa”.
A reforma trabalhista aprovada no governo Temer foi usada para o direcionamento de críticas a candidatos como Alckmin e Meirelles.
Boulos e Haddad mencionaram pontos como a permissão para que mulheres trabalhem em locais insalubres.
Já Marina criticou Meirelles, ex-ministro da Fazenda de Temer, e disse que alteraria pontos para evitar aumento de custos aos trabalhadores.