O ex-major da Polícia Militar de Pernambuco José Ferreira dos Anjos morreu, nesta segunda-feira (19), na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá, no Recife. Ele tinha 75 anos e sofreu uma parada cardíaca durante o atendimento. Os médicos tentaram reanimá-lo, sem sucesso.
Major Ferreira, como ficou conhecido, foi apontado como um dos envolvidos no Escândalo da Mandioca, um desvio de recursos para agricultura oferecidos pelo governo federal no Sertão de Pernambuco, na década de 1980.
O ex-oficial foi preso por participar da morte do procurador Pedro Jorge Melo e Silva, que investigava o caso. O crime ocorreu em 1982, em, Olinda, e virou documentário produzido pelo Ministério Público Federal (MPF). Ferreira ficou mais de 12 anos foragido e foi recapturado em 1995.
Major Ferreira estava em liberdade desde 2003. Ele foi condenado a 32 anos e seis meses de reclusão por assassinato e falsidade ideologica , e recebeu um indulto presidencial, após cumprir 10 anos, sete meses e 13 dias de pena.
Morte
Ferreira passou mal nesta segunda-feira e foi levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá, na Zona Oeste do Recife.
Segundo a direção da UPA, o paciente deu entrada às 8h19, com queixa de desconforto respiratório, dor torácica e dormência no lado direito, sendo encaminhado para a Sala Vermelha, voltada para doentes em situação grave.
Durante o eletrocardiograma, o ex-major apresentou parada cardíaca. “A equipe médica fez o procedimento de reanimação por 50 minutos e o paciente não resistiu e veio a óbito. O corpo do paciente foi encaminhado para o SVO (Serviço de Verificação de Óbitos /Hospital das Clínicas para determinação a causa da morti”, informou, em nota, a UPA.
Comissão da Verdade
Em 2012, o ex-major foi convocado para prestar depoimento na Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, que investigou as mortes, torturas e desaparecimentos de pessoas durante o período da ditadura militar.
José Ferreira dos Anjos atuou na 2ª seção da PM no período da repressão, e era considerado peça-chave para esclarecer os crimes ocorridos em Pernambuco durante essa época. A pedido da Comissão da Verdade, a própria PM garantiu a segurança do ex-major, que foi recrutado, em 1969, pelo então comandante do 4° Exército, o General Ednardo D’Ávila Melo. O trabalho de Ferreira seria atuar na repressão aos que eram contra o Golpe Militar de 1964.
Durante seu depoimento, o ex-major disse que uma de suas primeiras missões foi exatamente localizar e prender 12 estudantes que haviam participado de um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, São Paulo.
Entre os jovens estavam o jornalista Ricardo Noblat, ainda vivo, e Cândido Pinto, que tendo se recusado a entrar no carro da polícia, recebeu vários tiros. Pinto acabou paraplégico, por conta de um tiro que teria sido disparado pelo ex-major Ferreira. (G1)