Quem dúvida que o esporte é uma ferramenta poderosa de transformação de vidas? A pergunta é retórica e vem acompanhada da história que apresenta a mudança na família do jovem Júlio César Gomes. O garoto foi diagnosticado com osteossarcoma metastático – tipo de câncer ósseo que pode disseminar tumores para outros órgãos do corpo – quando tinha oito anos. Passou por tratamentos e cirurgia não conservadores, precisou amputar a perna direita e encarou limitações difíceis para uma criança ativa. Há cinco meses, porém, Júlio César começou a frequentar as aulas de natação a partir do Programa Forças no Esporte (Profesp), competiu em torneios estaduais, venceu e ganhou notoriedade. Foi um dos destaques de Pernambuco nas Paralímpiadas Escolares, com a conquista de dois ouros. Agora, ele vislumbra um futuro promissor. Sonha em fazer parte da seleção e ganhar o mundo.
Hoje Júlio Cesar tem 14 anos e acaba de completar cinco que superou o câncer. “Esse é o tempo que os médicos consideram cura da doença”, pontuou a mãe Jaqueline Gomes de Lima, que lembrou emocionada a trajetória de seu filho. De acordo com a matriarca da família, tudo começou quando Júlio sentiu uma dor incomum que veio acompanhada de um edema. Todos acreditavam que ele havia batido a perna em algum local, mas o machucado não melhorava e o tumor crescia rápido. O garoto também insistia que não havia se chocado em nenhum objeto, tampouco havia levado um tombo. A situação era estranha e começou a preocupar.
Júlio passou pelos hospitais do Tricentenário, em Olinda, Hospital das Clínicas e Hospital Osvaldo Cruz. “Tudo aconteceu muito rápido. Fomos encaminhados para os hospitais porque a situação parecia cada vez mais séria e os médicos queriam exames detalhados. Fizemos dois raios X até o doutor Pablo, do Osvaldo Cruz, pedir uma biópsia. Enquanto isso, a perna inchava, fica cada vez mais vermelha e quente. Não tinha arranhão. Ele não se alimentava, tinha muita febre e perdeu peso rápido”, relembrou.
O diagnóstico confirmou que o tumor era maligno e o mundo de Jaqueline desabou. Júlio César foi internado imediatamente. Mas ela só pensava que o pior aconteceria e que o mundo poderia ser cruel com uma criança deficiente. “A pior notícia foi saber da amputação. Uma criança de oito anos, no auge correndo, pulando e brincando, tirar uma perna… As pessoas no mundo são preconceituosas. Eu tive dificuldades para aceitar”, revelou. Para piorar a situação, o tumor estava grudado nas artérias e o câncer se tornou metastático. Surgiram tumores nos pulmões e nova cirurgia foi realizada.
A REVIRAVOLTA
Cinco anos depois de todo sofrimento, Júlio César deixou as complicações da doença para trás para encarar desafios no esporte. Matriculado no oitavo ano da Escola Argentina Castello Branco, ele recebeu o convite para participar do Programa Forças no Esporte (Profesp), que oferece aulas em modalidades esportivas para crianças e adolescentes. Júlio César ficou encantado com a possibilidade de nadar e optou ficar nas raias das piscinas. “Escolhi natação porque gostava de nadar quando a gente ia para a praia. Só sabia nadar com a cabeça fora da água. Mas participei de uma competição no Compaz e recebi convite para frequentar as aulas na Aabb (Associação Atlética Banco do Brasil)”, relatou o nadador, que hoje tem uma rotina de atleta profissional na instituição, localizada na Jaqueira, na Zona Norte do Recife.
Depois de se destacar nos Jogos Paralímpicos de Pernambuco, Júlio César se credenciou para disputar a maior competição para o segmento no País, as Paralimpíadas Escolares, em São Paulo, realizada em novembro. O pernambucano foi gigante e voltou para casa com dois ouros nos 50m costas e 50m livre, prova que também se tornou recordista. Os resultados confirmam que o garoto é um talento em desenvolvimento. Pode, inclusive, começar a ganhar o benefício Bolsa Atleta destinado para os atletas escolares a partir de 2020. Na prática, ele terá direito ao auxílio se fizer a inscrição. Poderá receber o valor de R$ 650,00 e ter o acompanhamento de nutricionista. “Penso nisso também e sonho em ajudar minha mãe a terminar de construir nossa casa. Eu estou gostando muito. Viajei e conheci novas pessoas de todos os estados do País. Competi com pessoas do Brasil inteiro. Eu penso que agora eu posso virar um nadador com reconhecimento nacional e representar o Brasil em competidores internacionais”, finalizou o nadador, cheio de sonhos.
JC
Foto: Gabriela Máxima/JC