O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse a prefeitos numa reunião que o presidente Jair Bolsonaro pediu prioridade à liberação de recursos que fossem solicitados por amigos de um pastor. A revelação foi publicada nesta terça-feira (22) pela “Folha de S.Paulo” e levou partidos da oposição a recorrer ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República contra o ministro e o presidente.
O jornal “Folha de S.Paulo” não revelou quando ocorreu a reunião em que foi gravada a conversa do ministro da Educação com prefeitos. Milton Ribeiro afirma que o governo prioriza prefeituras que peçam a liberação de verba por intermédio do pastor Gilmar Santos.
Santos não tem cargo no governo federal. Ele é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e pastor em Goiânia.
Na conversa, o ministro diz que esse foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro.
“A prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar. Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar”, disse o ministro.
Milton Ribeiro também sugere haver uma contrapartida à liberação de recursos do ministério.
“Então, o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser publicado. É apoio sobre construção das igrejas”, disse o ministro.
Na gravação, o ministro não dá detalhes de como esse apoio se concretizaria.
A reportagem afirma que a negociação das verbas do MEC para prefeituras também é feita com a mediação do pastor Arilton Moura, integrante da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil.
Assim como Gilmar Santos, Moura não tem cargo no MEC ou em qualquer órgão do governo federal, mas, com frequência, os dois pastores despacham no gabinete de Milton Ribeiro.
A agenda pública do ministro registra 20 reuniões com a participação de Gilmar Santos e Arilton Moura. A primeira foi em 17 de dezembro de 2020: uma visita de cortesia.
Depois, se tornaram mais frequentes. Só em 2021, foram 18 encontros oficiais. Na pauta, “reunião com prefeitos”, “alinhamento político” e “obras”.
Segundo a “Folha de S.Paulo”, os recursos para as prefeituras saem do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Em agosto de 2021, o pastor Arilton Moura participou de uma agenda com o ministro e o presidente do FNDE, Marcelo Lopes.
A relação entre os pastores e Milton Ribeiro foi revelada pelo jornal “O Estado de S.Paulo” na semana passada. O jornal publicou que o MEC tem um gabinete paralelo de pastores que controla a agenda e a verba do ministério, e que Gilmar Santos e Arilton Moura têm trânsito livre no MEC e atuam como lobistas.
Fonte: Jornal Nacional